Considerada erradicada no país desde 2001, o sarampo voltou e com força nos últimos dois anos. Iniciou-se na Região Norte, quando entre 1º de janeiro e 23 de maio de 2018, 995 casos atingiram a população do Amazonas e de Roraima.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) tinha lançado, em abril de 2018, um alerta sobre o retorno da doença em dez países da América – Brasil, Argentina, Equador, Canadá, Estados Unidos, Guatemala, México, Peru, Antígua e Barbuda, Colômbia e Venezuela. A epidemia já tinha atingido a Europa um ano antes, quando mais de 21 mil casos foram confirmados, com 35 óbitos – um aumento de 400% em relação a 2016.

O retorno da doença à América Latina começou na Venezuela. A crise econômica, política e social que assola o país levou o governo venezuelano a deixar de imunizar a população. Por fazerem fronteiras diretamente com o país de Maduro, os dois estados da Região Norte entraram na rota da doença.

Segundo a Folha de São Paulo, só nos últimos 90 dias foram registrados 2753 casos da doença no nosso país, sendo 2708 deles apenas no estado de São Paulo. Já foram registrados quatro mortes, a mais recente de um bebê em Pernambuco.

Transmissão, sintomas e complicações

O sarampo é uma doença perigosa, altamente contagiosa, podendo acarretar sequelas para toda a vida e, em alguns casos, levar a óbito. Sua transmissão ocorre pelo ar, quando a pessoa doente tosse, fala, espirra ou respira próximo de alguém não imunizado. A única forma de prevenir a doença é através da vacinação.

Seus principais sintomas doença são febre alta acompanhada de tosse, irritação nos olhos, nariz entupido ou coriza e mal-estar intenso. Entre 3 e 5 dias após a infecção começam a aparecer manchas vermelhas no rosto e na parte de trás das orelhas, que logo se espalham pelo corpo. A persistência da febre após o aparecimento das manchas é sinal de alerta, principalmente em crianças menores de 5 anos.

Nas crianças, o sarampo pode desencadear pneumonia (podendo ser fatal para crianças menores), otite média/aguda, que pode chegar a surdez total, encefalite – inflamação e inchaço do cérebro, fatal em 10% dos casos – e óbito. Nos adultos, ela pode causar pneumonia. Grávidas podem ter parto prematuro, com o bebê nascendo abaixo do peso.

Quem deve se vacinar?

A vacinação é a única forma de se prevenir contra o sarampo. (Imagem: Reprodução/People Creations)

O Ministério da Saúde altera os critérios para vacinação de acordo com as características da doença ou em casos de surto, como o que estamos vivendo. Com a atual situação do país, os critérios são:

Crianças

  • Dose zero: crianças entre 6 meses e 1 ano devem receber a dose extra.
  • 1ª dose: crianças com 12 meses.
  • 2ª dose: aos 15 meses, a última dose por toda a vida.

Adultos

  • Quem tem entre 1 e 29 anos e tomou apenas uma dose deve completar o esquema vacinal;
  • Quem tem entre 1 e 29 anos e nunca tomou vacina precisa das duas doses;
  • Quem tem entre 30 e 49 anos e nunca tomou vacina precisa de apenas uma dose;
  • Quem comprovar as duas doses da infância não precisa se vacinar novamente;
  • Acima dos 50 anos não precisa se vacinar;
  • Grávidas não podem se vacinar.

Movimento antivacina

Infelizmente, o avanço do sarampo (e de outras doenças) tem um grande aliado: o movimento antivacina. Nos últimos anos, o levante daqueles que pregam categoricamente contra a vacinação tomou conta do planeta, tendo iniciado na América do Norte e na Europa. Como dissemos anteriormente, o velho continente passou por um surto do sarampo em 2017, e a propagação de informações falsas sobre a prevenção através da vacina foi um dos grandes fatores.

Os teóricos da conspiração pregam que as vacinas, na verdade, são as causadoras da doença, o que é um exagero do que acontece na verdade. Algumas vezes, o que ocorre no nosso corpo é o que se chama de reação: ao tomar uma vacina contra H1N1, por exemplo, muitas pessoas podem apresentar febre e outros sintomas da gripe. Apesar de não ser uma regra, isso pode acontecer porque algumas vacinas são feitas a partir do agente biológico da doença, que é enfraquecido apenas para estimular nosso organismo a criar anticorpos. Uma vez produzido, esses anticorpos permanecem ativos no nosso corpo para sempre. Existem tanto os casos de pessoas que não adquirem qualquer sintoma quanto os que acabam adoecendo, mas isso depende do organismo de cada um, se a pessoa já tem uma imunidade baixa, entre outros fatores. As vacinas em si são seguras e necessárias.

O movimento antivacina não é algo novo: em 1998, o ex-médico britânico Andrew Wakefield lançou um artigo na revista científica The Lancet que alegava que a causa do autismo era a vacina tríplex (contra sarampo, caxumba e rubéola). Apesar de outros cientistas na época terem feitos estudos e testes que confirmaram que tudo não passava de um cruel boato, que inclusive desencadeou na cassação do registro médico de Wakefield, os grupos antivacinas atuais usam o artigo já desmistificado como prova da ineficácia e mortalidade das vacinas.

O caso é que se os movimentos antivacinas ganharem mais adeptos e influenciarem ainda mais a população, isso tanto aqui quanto lá fora, muitas doenças consideradas erradicadas podem retornar com agressividade, como o sarampo por agora. A poliomielite, rubéola e difteria, exemplo de doenças graves que conseguimos extinguir do nosso território, estão na lista como próximas potenciais epidemias.

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